As Personagens
Alberto Soares
É
o protagonista; procura compreender a realidade da sua existência.
Busca
a descoberta da pessoa que há em cada um de nós e a revelação de si a si
próprio.
Vive
atormentado, sente a morte como “uma violência estúpida”.
Apesar
da ligação a Sofia, Alberto, como existencialista, não crê no poder da paixão,
mas considera o homem responsável pela sua paixão.
Falta-lhe
a fé a que se refere o irmão Tomás, que não se preocupa com a vida nem com a
morte pois vive bem no meio de ambas. Desafia Deus.
É
o herói trágico da obra, um herói nobre, que desafia os deuses e
a ordem instituída e que se dirige para um destino que lhe é fatal mas alheio a
esse facto.
Existem
indícios em Aparição que “preparam”
este desfecho:
v a
caracterização física de Sofia, sempre ligada à sensualidade pecaminosa, à
sedução da carne, diabólica;
v a
caracterização psicológica de Sofia, desafiando regras sociais estabelecidas e
obedecendo apenas ao seu próprio código de comportamento;
v o
modo como Alberto perturba os restantes ao assumir a morte de Deus e a
necessidade de que o homem assuma a sua vida, a sua morte e a verdade da sua
condição humana;
v Carolino
interpreta de forma perversa a mensagem de Alberto ao defender que a divindade
do homem reside no seu poder para destruir a vida.
Sofia
Criança
difícil, desafia tudo e todos, as convenções sociais e morais e a própria vida,
tentando o suicídio.
Leva
até ao fim as consequências de estar no mundo. Prefere o absoluto da destruição
– o episódio em que destrói todos os brinquedos porque a irmã parte uma perna a
um.
É
uma personagem lunar, noturna. Tudo nela é enigma, com comportamentos
estranhos.
Alberto
começa por conhecer Sofia através do pai, Dr. Moura. (Cap. 3)
Começa
a dar-lhe lições de latim.
Têm
uma relação íntima que traz a A.S. a quase marginalização não só na sociedade
mas também no liceu.
A.S.
vai de férias e quando regressa, sabe da relação entre Sofia e Carolino que,
louco de ciúmes, tenta matar Alberto mas acaba por assassinar Sofia (Cap. 25)
por considerá-la, enorme, grandiosa. Sofia pagou com a vida a sua ousadia.
O
assassínio de Sofia é a Katastrophé
(da tragédia grega) em Aparição e
encontra-se inserida na ação principal.
Desafia
a sociedade em que está inserida (a vida e mesmo a própria morte).
Ana
É
a filha mais velha do Dr. Moura.
Aos olhos de Alberto, ela é grande. Parece
aceitá-lo e compreendê-lo mas resiste à sua notícia “messiânica”. Alberto
sente-se seduzido pela sua sabedoria.
É casada com Alfredo Cerqueira, homem
honesto, prático e grosseiro.
Ana leu dois livros de A.S. e sente-se
atraída pelas ideias existencialistas neles existentes. As verdades de um e de
outro cruzam-se.
Angústia em Ana: face à fragilidade, as
limitações da condição humana são para Ana o resultado de uma experiência, algo
que não lhe permite ter filhos e a frustra. Sente-se infeliz e também humilhada
pois o marido vê-a como um objeto que “possui” (Cap. 9) e só se preocupa com a
herdade e não cuida da sua aparência nem da forma como fala. Todo o seu amor
maternal é transferido para Cristina. Quando esta morre num desastre, o seu
comportamento altera-se.
Recupera a paz de espírito adotando os
dois filhos do Bailote.
Cristina
Tem 7 anos. Admirável, linda, toca piano
na perfeição. É só arte. Não questiona a vida, revelando com a sua música um
mundo harmonioso.
Inocente, é uma aparição maravilhosa e a sua música tem o dom da revelação; pura,
parece não pertencer ao mundo terreno.
Através da morte, vai permitir a A.S. a
exaltação integral da condição humana, “ter a evidência ácida do milagre do que
sou, de como infinitamente é necessário que eu esteja vivo, e ver depois em
fulgor que tenho de morrer.”
Carolino ou Bexiguinha
É
importante nesta ação pois é ele quem assassina Sofia.
É
fascinado pela morte como criação. Desafia Deus, tal como Alberto.