domingo, 1 de abril de 2018

"APARIÇÃO", VERGÍLIO FERREIRA - O ESPAÇO




O Espaço

Existem dois grandes espaços físicos na obra:
A aldeia, a montanha e o casarão - simbolicamente são o espaço da memória, da origem, da família e também da escrita e que se relacionam com as ideias de estabilidade e de segurança. Este espaço surge ligado à infância, à revelação, à paz.
Montanha – alta, vertical e próxima do céu, ela pode simbolizar a transcendência, estabelecendo a união entre o céu e a terra. Na medida em que é um local solitário, pode igualmente representar a solidão, o encontro connosco.
Casarão - é o espaço onde o narrador é confrontado com a morte como algo inevitável em momentos diferentes: primeiro, com a morte do cão Mondego, depois, com a do seu próprio pai e onde experimenta a primeira aparição. É também o espaço onde o narrador se reconcilia consigo mesmo através da escrita: é o espaço facilitador da memória e do reencontro da origem e da verdade onde passado e futuro se unem.

O Alentejo, a planície, Évora – representam o espaço da procura do “eu”, da aparição e também da tragédia. É o espaço terrestre ilimitado, horizontal.
Évora – as ruas de Évora simbolizam uma certa hostilidade, alguma indiferença que, por vezes, envolvem o narrador e a sua mensagem.
A cidade é mitificada, irreal, aberta à capacidade poética da aparição. O “eu” que a vê e sentindo-se angustiado, encontra nela o “espelho” de si mesmo. Ela não é, então, apenas o espaço mas enche-se de sentido simbólico, constituindo a síntese das inquietações e insatisfações das personagens.